Olá, sejam bem-vindos ao meu mundo.

sábado, 5 de novembro de 2011

O mar. [remodelado]

Era noite, o céu estava demasiado escuro, as nuvens eram pretas, o mar estava descontrolado. Chovia como eu nunca vi chover. A praia estava deserta, só lá estava eu. Eu, e o mar. Sozinhos, cúmplices um do outro. Eternos amantes. Eternos companheiros. Eternos ouvintes de palavras soltas, tão soltas quanto as ondas selvagens desse mar. Tão selvagens como o bater do meu coração descontrolado, inexplicavelmente, controlado por esse mar. Esse mar... A coisa mais pura, mais bela. Como nenhum humano consegue ser. Mostrando todas as suas emoções. Se está bravo, ele mostra, se está calmo, ele não esconde. Direta ou indiretamente, ele mostra-nos o que tem dentro de si, é puro. É único. É de todo o mundo, é de ninguém. É de quem o ama, e o compreende. É meu. Porque eu sou dele...

Era cada vez mais tarde, e eu estava ali, sozinha, só com o mar. Estava completamente encharcada. De repente...
- Olá! - disse um homem muito bruscamente, enquanto se sentava do meu lado e me cobria com o guarda-chuva. 
- Quem és tu? - disse eu. A medo.
- Não interessa quem eu sou, estou aqui para te proteger. 
Estou aqui para te proteger, disse ele... Quem seria? Que quereria de mim?
- Interessa! Quem és?! - voltei a perguntar.
Ele não respondeu. Acendeu um cigarro e ofereceu-mo. Aceitei. E voltei a atacar.
- Quem és tu?! Responde! 
Ele permanecia calado. Fartei-me, levantei-me e parti. 
Dias depois, voltei à mesma praia. Não chovia, o mar estava calmo, sereno. Acendi um cigarro peguei no meu caderno, na minha caneta e escrevi. Escrevi o que tinha preso no coração. O que a minha boca não conseguia reproduzir, o que o meu cérebro não permitia dizer. Escrevi até não aguentar mais. Dei vida a palavras que, por si mesmas, estão mortas. Dei um novo significado à palavra «Liberdade», outro à palavra «Amor». Ficando então, a palavra «Liberdade» representada pelos grãos de areia que escorriam entre os meus dedos, sem eu nada fazer contra isso. A palavra «Amor», ficou representada pelos minúsculos grãos de areia que permaneceram no aconchegante calor das minhas mãos. Percebi então que só quem sabe amar, sabe libertar. Que só quem sabe libertar, sabe amar. 
Pousei o caderno e a caneta, encostei os joelhos ao peito, abraçando-os. Fiquei a observar o mar. Segundos depois, o mesmo homem, senta-se do meu lado.
- Vim todos os dias aqui à espera de te encontrar. Sabia que voltavas.
Aquele homem era estranho, deixou-me com um certo receio.
- Mas quem és tu? De onde vens? Porque me procuras?
- Há certas coisas, que, por vezes é melhor não sabermos.
- Porquê? 
- Porque estamos demasiado acostumados ao nosso presente e passado.
- Mas quem és?
Ele não respondeu. Levantei-me para ir embora.
- Espera, onde vais? - disse ele agarrando-me. - Fica. 
- Fico quando me disseres quem és!
- Eu... Eu sou o teu Pai. - disse ele, num tom sereno.
- O meu Pai?! Mas, como?! 
- Sim, sou o teu Pai. 
- Que fazes tu aqui? Tu abandonaste-me, a mim e à minha mãe! Como és capaz?!
- Eu voltei para te conhecer, sei que errei, mas eu mudei, cresci, tornei-me alguém, alguém completamente novo.
- Como és capaz?! Depois de todos estes anos!
- Olha para o mar. - olhei. - Eu sou o mar. Repara como ele nunca está quieto. Vai, e volta. Eu, sou o mar.
- Mas quem é que tu pensas que és? Deixaste-me sozinha e agora apareces-me a dizer que és o mar?! Tu...
- Calma. Ouve...
- Eu não vou ouvir nada, NADA!


E foi-se embora. Por vezes, aquilo que pensamos estar mais certo no momento, vai estar errado no futuro. Pais, mães, irmãos, amigos, namorados... Todos nós erramos. Todos nós magoamos. Todos nós somos o mar.

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